No Brasil as indústrias não são obrigadas a declarar o valor desse nutriente no rótulo, o que torna a tarefa de escolher opções mais saudáveis, ainda mais difícil.
Já comentamos aqui no blog que pesquisas recentes do Ministério da Saúde mostram que os brasileiros estão consumindo açúcar refinado além do recomendado, mas outra pesquisa chamada de ERICA (Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes) atestou na prática o que vemos nas escolas, nos shoppings e nos restaurantes: o alto consumo de refrigerante e doces pelos adolescentes.
O ERICA foi um estudo que foi às escolas para pesquisar a alimentação, o peso, os hábitos e as atividades dos adolescentes, entre 12 e 17 anos, de 1.247 escolas, distribuídas em 124 municípios. O estudo produziu uma grande fotografia da saúde dos adolescentes brasileiros e se você tem filhos, vale à pena dar uma olhada nos resultados.
Os refrigerantes aparecem como hábito alimentar de 45% dos adolescentes, uma proporção considerada alta pelo Ministério da Saúde. Doces e sobremesas aparecem na sequência, com 39,3% de adesão. As frutas nem sequer aparecem na lista geral de 20 alimentos mais consumidos, mostra o estudo.
Além de refrigerantes e doces, muitos outros produtos que aparecem na lista dos 20 alimentos mais consumidos pelos adolescentes (12-17 anos), contém açúcar disfarçado como molhos de tomate e de salada que podem ter mais açúcar do que sal. Cereais matinais, pães de forma e até salgadinhos de milho contêm açúcar, e, muitas vezes, o ingrediente aparece com outro nome no rótulo do produto. Mas, ninguém sabe identificar este perigoso ingrediente nas embalagens. Para atrapalhar ainda mais, a indústria sempre tenta camuflar a forma de dizer a mesma coisa, dificultando ainda mais a informação nas embalagens.
Sobre este hábito de consulta aos rótulos, a Consumers International (CI) realizou uma pesquisa em nove países sobre a rotulagem nutricional de alimentos industrializados e concluiu que os brasileiros são os que menos sabem identificar os dados nutricionais informados nos rótulos. Ou seja, o brasileiro que já não tem o hábito de ler, enfrenta ainda mais dificuldade na hora de saber o que está escrito. Veja o que diz a pesquisadora:
“O resultado aqui foi pior por não haver a cultura de ler essa informação e pela dificuldade de compreensão. A informação que há hoje não é a mais clara. São muito técnicas. E isso confunde mais do que ajuda ao consumidor” — Diz Ana Paula Bortoletto, nutricionista e pesquisadora do Idec que participou da pesquisa junto com a CI.
Na tabela nutricional ainda não é obrigatória a informação da quantidade de açúcar, ele aparece como carboidrato, mas na lista de ingredientes ele pode aparecer de diferentes formas. Um infográfico publicado no site do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) mostra que o açúcar pode aparecer disfarçado nos rótulos de 21 formas diferentes, confira a lista:
» Glucose de milho; » Lactose; » Xarope de malte; » Glicose; » Frutose; » Néctar; » Açúcar cristal; » Glucose; » Sacarose; » Açúcar invertido; » Açúcar de confeiteiro; » Açúcar mascavo; » Açúcar bruto; » Mel; » Açúcar branco ou refinado; » Melaço ou melado; » Caldo de cana; » Dextrose; » Maltose e xarope de milho; » Xarope de malte; » Maltodextrina.
Agora que você já sabe como identificar o açúcar, que tal começar a olhar a embalagem dos produtos industrializados que você guarda na despensa?
Ao ler o rótulo, também é importante lembrar que, de acordo com a legislação da ANVISA, os primeiros ingredientes da lista são aqueles que estão em maior quantidade no produto. Assim, se o açúcar vem primeiro, ele é o ingrediente mais utilizado para fazer aquele determinado produto.
Essa redução do açúcar deve acontecer de uma forma relativamente lenta, aos poucos, e não apenas para as crianças e adolescentes, é fundamental mudar o hábito da família por inteiro. Estudos mostram que cerca de um em cada cinco adultos do país consome doces, refrigerantes e sucos artificiais quase todos os dias, um péssimo exemplo para os mais jovens.
Evite sempre que possível recorrer aos alimentos industrializados e, quando não tiver escolha, opte pelo menos processado, da sua forma mais próxima do natural possível. Quando não tiver outra alternativa, leia sempre o rótulo!
Consulte sua nutricionista e lembre-se: alimento bom de verdade é aquele que não tem rótulo! E de preferência os orgânicos.
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